Estudo aponta ainda que indefinição do Poder Judiciário causa insegurança na categoria, que espera regulamentação que traga auxílio na compra de veículos

 

São Paulo, 30 de outubro de 2025 – A maioria dos motoristas por aplicativos rejeita o vínculo empregatício com as plataformas, defende a flexibilidade neste tipo de trabalho, e considera que o mais importante na regulamentação da atividade é ter auxílio do poder público para trocar de veículo. É o que aponta um estudo do Instituto de Pesquisas Datafolha, encomendado pela Uber, que indica ainda o aumento do custo de vida e a flexibilidade como principais motivos pelos quais os trabalhadores exercem a atividade.

A pesquisa sinaliza que 6 em cada 10 motoristas não gostaria de ser motorista empregado pelo modelo CLT para dirigir por aplicativos (60%), 25% gostariam, e 14% não souberam responder. Se considerados apenas os respondentes, a rejeição ao enquadramento celetista é de 7 em cada 10 trabalhadores. 

Em relação à modalidade intermitente, inserida na CLT em 2017, o sentimento é ainda mais negativo. Segundo a pesquisa, 66% dos motoristas disseram que o modelo não se adequa às suas necessidades, e, considerando somente quem soube responder, o percentual de rejeição à modalidade intermitente sobe para 76%. 

O Datafolha fez ainda uma terceira pergunta sobre o tema, questionando se os motoristas aceitariam mudar para um emprego CLT ganhando o mesmo valor líquido que ganham atualmente. A maioria (54%) respondeu que não e, excluindo aqueles que não souberam responder (18%) à pergunta, 66% dos motoristas descartam mudar para a CLT ainda que ganhando igual.

O Datafolha ouviu aleatoriamente 1.800 motoristas com cadastro ativo na plataforma da Uber, em todas as regiões do país, entre os meses de maio e agosto de 2025.

Regulamentação

Em meio às discussões sobre a regulação do trabalho dos motoristas por aplicativos, em andamento na Câmara dos Deputados, a pesquisa avaliou as ações que esperam do governo para a categoria. A maioria (52%) afirma desejar auxílio para a compra de veículos, com linhas de financiamento ou incentivos. Para 17% a medida mais importante está relacionada à Previdência, 7% esperam programas de capacitação e 1% responde querer melhora da remuneração ou a definição de uma tarifa mínima por km. Para 21% o melhor é não haver nenhuma intervenção do poder público, e outro 1% diz esperar apenas que não sejam cobradas taxas ou impostos da categoria.

Em relação à proteção previdenciária, ponto central nos debates em Brasília, 60% dos motoristas declaram estar cobertos pela previdência pública ou por planos privados. Desse total, a maioria contribui ao INSS por ser empregado de empresa privada ou pública (33%), enquanto 18% estão cobertos como profissionais autônomos, e 9% possuem apenas previdência privada. 

Já entre os que não estão cobertos por nenhum tipo de previdência, os motivos mais citados são o custo (32%), a incompatibilidade do sistema atual para a realidade do motorista (23%), e a alta burocracia (17%).

Os custos relacionados ao veículo, como manutenção e conserto, são apontados como as maiores preocupações de médio e longo prazo pelos motoristas (49%). Na sequência está o medo de assaltos (37%), seguido pelo receio de perder a renda por não poder dirigir por causa de acidentes (36%) ou doenças (31%).

Judiciário

O enquadramento jurídico do trabalho intermediado por aplicativos está sendo discutido pelo Supremo Tribunal Federal, que desde março de 2024 definiu que um processo envolvendo a Uber tem repercussão geral (Tema 1291), ou seja, a decisão será aplicada por todas as instâncias. Em outubro, depois de ouvir argumentos das partes e entidades admitidas no processo, o caso foi suspenso e ainda não tem data para ser retomado.

O Datafolha aponta que 56% dos motoristas concordam que a falta de uma definição sobre o tema pelo Poder Judiciário causa insegurança sobre o próprio futuro, e que a maioria procuraria outra atividade como autônomo (50%) ou empregado (16%), em caso de uma decisão que determine que todos os motoristas tenham vínculo de emprego com as plataformas.

Perfil

De acordo com a pesquisa, a maioria dos motoristas são chefes de família (90%), têm ensino médio completo (58%), ficam até 20h/semana online nas plataformas (60%), possui outra fonte de renda além dos apps (58%), dirige com mais de um aplicativo no dia a dia (74%) e quer continuar trabalhando com as plataformas (72%). 

Quanto aos motivos mais importantes pelos quais atuam nas plataforma, 87% dos motoristas indicaram o aumento do custo de vida no Brasil, seguido pela flexibilidade e autonomia para definir quando e onde trabalhar (84%), para ganhar dinheiro e realizar projetos pessoais ou de familiares (80%) e pela necessidade de complementar uma renda insuficiente (79%).

Para o diretor de Políticas Públicas da Uber, Ricardo Leite Ribeiro, a pesquisa oferece novos dados para ampliar a compreensão sobre a realidade do trabalho por meio de plataformas e traz informações importantes sobre as preferências dos trabalhadores, o que pode contribuir para as diretrizes de uma regulamentação que responda seus interesses e necessidades.

“Os dados mostram que o motorista valoriza a flexibilidade e rejeita modelos que restrinjam sua liberdade ou engessem a dinâmica atual. É preciso ter cuidado no debate regulatório para que as eventuais mudanças não acabem por comprometer o modelo justamente naquilo que os trabalhadores efetivamente valorizam nele hoje”, afirma.

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Metodologia: pesquisa quantitativa com abrangência nacional e coleta de dados através de questionário estruturado com autopreenchimento pelos respondentes, convidados a participar por e-mail, com link para o questionário individual enviado aleatoriamente a parceiros ativos na Uber. A amostra é composta por​ 1.800 motoristas, entrevistados a partir de listagens representativas do universo de motoristas cadastrados na Uber. A margem de erro máxima para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. Os dados foram ponderados de acordo com a distribuição das variáveis região e tempo na plataforma, como forma de representar o universo estudado. O estudo foi blind, ou seja, os entrevistados não foram informados sobre o nome da empresa contratante.