Segurança viária: estudo mostra que mais de 90% dos sinistros de trânsito ocorrem onde não há fiscalização eletrônica
Escrito porO Instituto Cordial, em parceria com a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), revela a segunda parte de um estudo inédito sobre sinistros com motocicletas, com o apoio da Uber. Os dados foram coletados durante mais de oito meses diretamente do Centro Hospitalar do Município de Santo André (CMH), que, segundo o DataSUS, tem um dos maiores números de atendimentos a vítimas de sinistros com moto na Região Metropolitana de São Paulo.
Por meio desse estudo, é possível identificar dados com detalhes de cada ocorrência. Alguns destaques da pesquisa revelam que:
- 90% dos sinistros ocorreram onde não há fiscalização eletrônica e 81% onde não há sinalização de limite de velocidade.
- 1 em cada 5 sinistros com moto envolveram motoristas sem habilitação.
- Deslocamentos diários simples (sem relação com geração de renda) concentraram cerca de 3 em cada 5 sinistros de moto.
- 23% dos entrevistados haviam consumido álcool ou outras drogas antes do sinistro (nenhum deles envolvido com atividade em apps).
- A média de tempo de CNH dos que sofreram incidentes é de 12 anos.
- Mais de 80% dos envolvidos pilotam moto quase todos os dias.
A pesquisa contém informações que não são atualmente consideradas em levantamentos públicos, o que permite o desenvolvimento de ações mais efetivas para combater a violência no trânsito e introduz uma nova metodologia aplicável em outras localidades. Até o final do ano, o levantamento ainda trará dados do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e do Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, ambos centros de referência no atendimento de trauma de trânsito.
“Houve uma grande alteração no perfil da mobilidade no Brasil, especialmente depois da pandemia de Covid-19, bem como um forte crescimento da frota e de sinistros com motociclistas ao menos nos últimos 15 anos no país. Nesse cenário, a pesquisa vem colocando luz em questões ainda pouco compreendidas, terreno para muitas suposições, como o perfil das viagens de motocicleta no momento dos sinistros. Aprofundando essa compreensão, poderemos ter ações mais direcionadas e efetivas na perspectiva dos Sistemas Seguros de Mobilidade e caminhando para a Visão Zero, ou seja, a visão de que nenhuma morte no trânsito é aceitável”, afirma Luis Fernando Villaça Meyer, diretor de Operações do Instituto Cordial.
A pesquisa se aprofundou sobre pontos específicos dos deslocamentos e do momento da ocorrência, tanto em relação à infraestrutura do local do sinistro, quanto ao uso da motocicleta. Cerca de 74% das vítimas estavam, no momento do sinistro, apenas se deslocando de um local para outro para atividades pessoais, passeando ou pegando carona com um amigo, sem relação com atividades comerciais ou serviços prestados na moto.
Para o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior, compreender o cenário e as circunstâncias em torno dos sinistros de trânsito é o primeiro passo para salvar vidas. “Entre todos os usuários das vias, o motociclista é o mais vulnerável. Ele está mais exposto aos riscos do ambiente viário e às falhas de comportamento de outros condutores. Por isso, compreender as causas e os contextos desses sinistros é fundamental para orientar ações preventivas, tanto na formação de condutores quanto nas políticas públicas voltadas à mobilidade segura”.
Segundo ele, a preocupação com o motociclista, seja profissional, estudante, entregador ou alguém que utiliza a moto para lazer ou deslocamentos pessoais, deve ser um compromisso de toda a sociedade. “Proteger quem está sobre duas rodas é, acima de tudo, uma forma de preservar vidas e promover um trânsito mais humano e responsável”, disse.
O presidente também chama atenção para outro ponto revelado pela pesquisa: o alto número de condutores sem habilitação. “Há muita gente pilotando sem estar habilitada, e a falta de fiscalização acaba permitindo que isso aconteça. Essa é uma mensagem central que a pesquisa nos ajuda a enxergar”, afirmou.
“Como parte da nossa missão enquanto sociedade científica, buscamos sempre aprofundar o conhecimento sobre a segurança viária e apontar caminhos para reduzir lesões e mortes no trânsito. Este estudo mostra o que vemos todos os dias na prática: muitos sinistros acontecem em locais sem fiscalização ou sinalização adequada. São informações que precisam chegar aos gestores públicos e à sociedade, porque ajudam a salvar vidas”, acrescentou.
A coleta de dados para o estudo foi conduzida de 13 de janeiro até 1º de setembro por pesquisadores de campo residentes de medicina, e todas as vítimas de sinistros relacionados com moto tiveram as características da ocorrência analisadas, incluindo entrevistas presenciais, prontuários médicos e relatórios do SAMU. No total, foram 329 entrevistas feitas com vítimas de sinistros atendidas no hospital, em conformidade com as leis de privacidade necessárias para manter o anonimato no levantamento.
“Essa pesquisa é um marco, pois apresenta dados de incidentes com informações que nunca foram vistas antes. Com essa análise das características dos sinistros, é possível definir ações que mitigam riscos, não só para parceiros da plataforma, mas principalmente para todos que utilizam veículos em duas rodas. Sentimos muito orgulho de ter apoiado essa iniciativa em Santo André, com as próximas rodadas em São Paulo e Fortaleza, e de ter apoiado a criação de uma metodologia que pode ser replicada Brasil afora por quem desejar de fato pensar em políticas públicas baseadas em evidências, não em proselitismo”, afirma Laura Lequain, head de Uber Moto no Brasil.
Sumário Executivo da Pesquisa – link