Estudo visa avaliar o impacto da LGBTfobia na mobilidade urbana e revela que pessoas cis gênero tendem a se deslocar mais do que pessoas trans ou de outras identidades

São Paulo, 15 de dezembro de 2022 – Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, com o apoio da Uber, mostrou que grande maioria da população LGBTQIA+ teme sofrer assédio sexual ou agressão física nos seus deslocamentos. Entre os entrevistados, 73% concordam que pessoas LGBTQIA+ têm mais dificuldade para se deslocar pela cidade em segurança.

Ir a pé (48%) ou de carro particular (40%) são as formas de deslocamento mais populares entre a população LGBTQIA+, 34% também declaram utilizar transporte por aplicativo. Ao mesmo tempo, a utilização desses meios é menor entre pessoas trans ou com outras identidades de gênero, que tendem a utilizar uma menor variedade de meios de deslocamento em comparação à população cis não héteros. 

Ainda de acordo com a pesquisa, pessoas não cisgênero, entre elas pessoas transgênero, travestis, agêneros, gênero fluído e não binários, se deslocam com menos frequência. Enquanto 69% da população cis afirma sair pelo menos 4 vezes por semana, 63% da população trans e 55% das pessoas que se identificam com outras identidades saem com essa mesma frequência. 

No geral, considerando todas as pessoas entrevistadas, 36% se deslocam todos os dias da semana, mesmo percentual das que afirmam sair apenas 3 vezes ou menos.

Hábitos e satisfação com os deslocamentos

Quando perguntadas sobre os motivos pelos quais se deslocam, “Trabalhar ou procurar trabalho” (50% das pessoas entrevistadas) e “Comprar itens para a casa ou família” (43%) foram as motivações mais recorrentes. Sair para “Lazer” vem em seguida com 39%, mas também apresenta variação entre os públicos que compõem a sigla LGBTQIA+. Cerca de 45% de cis não héteros afirmam sair para lazer e apenas 27% da população trans se desloca para a mesma finalidade.

Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, a pesquisa evidencia que, para a população LGBTQIA+, uma das principais dificuldades nos seus deslocamentos pela cidade é a sensação de medo e insegurança. “Os entrevistados relatam sentir medo de sofrer preconceito por conta de suas identidades de gênero e sexualidade”, explica. “A cada 10 pessoas entrevistadas, 6 já presenciaram ou foram vítimas de LGBTfobia em seus deslocamentos. Por isso, é muito comum que essas pessoas mudem a sua forma de se locomover por medo de situações de discriminação.”

Entre os motivos de insatisfação com o transporte nas cidades brasileiras, de acordo com a pesquisa, estão o custo (66%) e a segurança (65%) para se deslocar. Apenas 11% das pessoas entrevistadas disseram se sentir altamente satisfeitas com este último item.

Levantamento

Mais de 15,6 milhões de brasileiros são da população LGBTQIA+ (cerca de 9,3% da população acima dos 16 anos), de acordo com uma projeção do Instituto Locomotiva baseada na estimativa populacional do IBGE (2022) e na pesquisa do Orgulho (Datafolha, 2022).

Para Rodrigo Caetano, responsável pelo time de Diversidade e Inclusão da Uber na América Latina, entender as desigualdades é essencial para construir propostas afirmativas de inclusão e garantia de direitos. “A Uber acredita que todos têm o direito de se locomover livremente, sem medo e em segurança”, explica. “A empresa possui um Código da Comunidade que explicitamente proíbe qualquer tipo de discriminação, mas entende seu papel nessa luta e tem o compromisso de continuar atuando como aliada, criando e disseminando conteúdos educativos contra a LGBTQIA+fobia, construindo parcerias com organizações especializadas no assunto e orientando usuários e parceiros para a construção de uma comunidade mais respeitosa e segura para todos.”

O estudo revela, ainda, que 73% enxerga a LGBTfobia como sendo algo muito comum no dia a dia e que, para pessoas pretas, essa percepção é ainda maior.(85%). 

Confira abaixo outros dados da pesquisa “LGBTfobia e mobilidade”:

  • 55% (o que representa 8,5 milhões de pessoas) disseram de forma espontânea que já presenciaram alguma situação de LGBTfobia nos deslocamentos pela cidade;
  • 29% (4,5 milhões) disseram de forma espontânea já ter sofrido LGBTfobia nos seus deslocamentos;
    • Quando estimulado com situações concretas, esse percentual sobe para 57%.
  • 77% tem medo de sofrer assédio ou importunação sexual nos seus deslocamentos;
    • Entre mulheres negras, o percentual sobe para 87%.
  • 73% temem sofrer alguma agressão física nos deslocamentos;
  • 56% temem sofrer LGBTfobia nos deslocamentos;
    • O medo sobe entre homens (65%) e pessoas pretas (63%).
  • 4 a cada 10 pessoas entrevistadas afirmam que já mudaram sua forma de se locomover por medo de serem vítimas de LGBTfobia;
  • 49% da população que utiliza o transporte público já sofreu alguma situação de LGBTfobia nos deslocamento com essa modalidade.

 

Metodologia

A pesquisa on-line foi realizada com 1.000 pessoas da comunidade LGBTQIA+ de todo o Brasil, acima de 18 anos, entre os dias 5 de setembro e 7 de outubro de 2022. A margem de erro é de 2.8 pontos percentuais para mais ou para menos.

 

Sobre o Instituto Locomotiva

Fundado em 2016, o Instituto Locomotiva nasceu para transformar dados em estratégias e ações para que empresas, instituições públicas e organizações do terceiro setor dialoguem com uma população cada vez mais informada e exigente. O instituto desenvolve pesquisas e estudos com variadas metodologias, colocando-se ao lado dos cidadãos e consumidores como porta-voz de suas demandas.

 

Veja a pesquisa completa no site do Instituto Locomotiva aqui.