• No Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com o ID_BR, apresenta dados sobre racismo na mobilidade urbana.
  • Trabalhadores do setor sentem medo de sofrer discriminação.
  • Vítimas não acreditam que as pessoas que cometam racismo serão punidas.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva mostra como o deslocamento pelas cidades pode ser um desafio para pessoas negras, tanto do lado de quem utiliza os serviços como também de quem trabalha no setor, como motoristas de ônibus, cobradores e motoristas de táxi e aplicativo. 72% das pessoas dizem já terem presenciado uma situação de racismo nos seus deslocamentos pela cidade, e 39% dos negros afirmam que já foram vítimas do crime, ou seja, uma a cada três pessoas negras já sofreram racismo nos seus deslocamentos. Entre profissionais negros que atuam no setor, esse número é ainda maior: 65% dos trabalhadores do transporte entrevistados já sofreram alguma situação de racismo durante o expediente. A pesquisa que ouviu 1200 pessoas e mais de 1000 profissionais que atuam no transporte foi encomendada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) com o apoio da Uber, em parceria com o Instituto Identidade Brasil (ID_BR).

Quando questionados sobre situações de preconceito vividas, a população negra relatou ter sido menosprezada (24%), abordada de maneira desrespeitosa (17%), sofrido agressões verbais e ter sido alvo de expressões racistas (14%). Entre profissionais do transporte negros que enfrentaram situações de preconceito, embora as agressões verbais (47%) e o menosprezo (46%) tenham sido mais frequentes, eles foram três vezes mais alvo de expressões racistas e sofreram três vezes mais ameaça do que a população negra vítima de preconceito racial.   

 

“Muito embora algumas pessoas possam ter a leitura de que ações como “ser menosprezada” sejam atos imperceptíveis ou menos importantes, as microagressões são frequentes no cotidiano da população negra e afetam psicologicamente quem vive essa relação todos dias. Por outro lado, imaginar que, ainda hoje, 13% pessoas negras já sofreu violência física em consequência do racismo nos transportes públicos só reforça a noção de que a adoção de ações de combate ao racismo se fazem cada vez mais urgentes e necessárias.” afirma Roberta Calixto, Especialista em Diversidade e Inclusão no ID_BR.

O estudo mostra que 71% das pessoas negras que trabalham no trânsito sentem medo de sofrer racismo ou preconceito por sua cor. Já entre a população geral negra, esse número desce bastante (41%), o que mostra que quem está na rua por mais tempo sente mais medo de sofrer esse tipo de discriminação. Os números também revelam que motoristas de ônibus e cobradores são os profissionais que mais observam casos de racismo no seu trabalho (75%), seguidos de motoristas de aplicativo (73%) e taxistas (65%). 

 

O número de casos acaba impactando o comportamento das pessoas negras ao planejar seu deslocamento: 29% dos negros declararam que já mudaram a forma de se locomover pela cidade devido a situações de preconceito ou discriminação. Entre mulheres negras, o número chega a 31%. As mulheres negras também são as que mais se sentem vulneráveis nos deslocamentos: 72% delas temem sofrer algum tipo de assédio sexual, 64% sofrer agressão física e 47% sofrer algum tipo de racismo. 

 

A pesquisa também incluiu duas imagens para comparar a percepção dos profissionais de transporte sobre as diferenças entre um homem negro e um branco: 6 em cada 10 profissionais acreditam que uma pessoa negra tem mais chance de causar medo nos passageiros que uma pessoa branca. A chance de motoristas não pararem no embarque para um passageiro negro também é bem maior (61% x 7%).

Para Roberta Calixto, “a análise do racismo deve ser interseccional e, como podemos perceber, impacta a vida de mulheres e homens negros em diferentes esferas, afetando também a liberdade de ir e vir dessas pessoas. Para as mulheres negras a situação de violência pode ocorrer dentro e fora dos transportes, assim compartilhar o caminho em determinados horários é a forma de ativar a segurança como um elemento chave, mas o medo da violência impacta também na escolha por não se deslocar. Para homens negros o desafio é retornar com vida. Pense na situação de um homem negro cujo horário de trabalho avance pelas madrugadas, quando a oferta de transporte é ainda menor, e na probabilidade, de acordo com esses números, de que ele consiga embarcar em algum transporte na sua volta pra casa”.

Para a maioria da população (69%), o racismo é comum no dia a dia e 25% consideram que as pessoas que cometem racismo nunca são devidamente punidas. Entre profissionais de transporte, essa crença na inadequação da punição vai para 38%. Com isso, dentre profissionais que foram vítimas de racismo, apenas 17% já realizaram algum tipo de denúncia, seja para a empresa ou para a polícia. 

“A pesquisa revela o racismo presente em um recorte específico da sociedade brasileira. E nem poderia ser diferente, uma vez que ele é estrutural”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “Eis um dado particularmente cruel: 61% dos motoristas entrevistados acham que um passageiro negro tem mais chance de ver recusada uma corrida ou embarque em razão da cor de sua pele. Isso mostra como o racismo afeta dramaticamente o cotidiano da população negra, restringindo, nesse caso, o seu direito de ir e vir”.

Em 2020, a Uber anunciou uma série de 14 compromissos globais com o objetivo de combater o racismo e criar produtos igualitários por meio da tecnologia. Os compromissos passam por metas internas, como aumentar o número de pessoas negras em nossas equipes, inclusive em cargos de liderança, e também externas, como a revisão dos processos de respostas às denúncias de racismo e a disseminação de conteúdo educativo para motoristas parceiros e usuários. Como parte dessa iniciativa, a empresa lançou em 2021 uma campanha de educação antirracista, com conteúdos em vídeo disponíveis dentro do próprio app de motoristas parceiros e usuários. 

Metodologia

A pesquisa com a população geral foi realizada de forma quantitativa online com 1.200 pessoas entrevistadas com idade a partir de 18 anos em todo o Brasil. A coleta de dados foi realizada em janeiro deste ano e a margem de erro é de 2.8 p.p. O estudo com profissionais da mobilidade foi realizado de forma quantitativa presencial com 1.050 pessoas entrevistadas com idade a partir de 18 anos nas 10 principais regiões metropolitanas do Brasil e a margem de erro é de 3.0 p.p.

 

Sobre a Amobitec

Fundada em 2018, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia — Amobitec é uma associação que reúne empresas que prestam serviços tecnológicos relacionados à mobilidade de pessoas ou bens, como o aluguel de equipamentos de micromobilidade, intermediação de viagens de transporte individual privado, serviços de delivery e aplicativos voltados à produção de dados e informações aos cidadãos.

A associação tem como missão contribuir para o desenvolvimento da mobilidade integrada, por meio da interlocução ética e profissional com os agentes públicos e organizações da sociedade civil, apresentando propostas de políticas públicas e estímulo à inovação tecnológica para a melhoria do desenvolvimento urbano e da qualidade de vida.